Cabo de Guerra no Comércio Internacional: Estados Unidos x Brasil
- geralprospectus
- 2 de abr.
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Há mais de 30 dias no governo dos Estados Unidos, Donald Trump iniciou uma série de medidas em diversos âmbitos, gerando impactos locais e, principalmente, internacionais quando se fala em relações comerciais com o referido país.
Nesse turbilhão de novas informações, países que exportam produtos para os Estados Unidos se encontram em uma posição de observar o que o presidente dos Estados Unidos fará em relação à taxação de seus produtos, para determinarem como irão proceder perante tal ação.
Assim, neste cenário nublado e confuso, tentamos entender como tais ações vêm impactando alguns setores-chave no Brasil, com base na opinião de profissionais da nossa rede que atuam nestes setores.
Elencamos os setores de Oil & Gas, Aço, Agro, Proteína Animal e Mercado de Transformação – Energia, que possuem participação significativa na balança comercial brasileira no que concerne ao volume de exportações para os Estados Unidos, e fizemos 2 perguntas diretas:
Na sua percepção, nestes mais de 30 dias de Donald Trump no governo:
1. Como isso vem afetando seu setor no Brasil?
2. Quais são suas perspectivas de médio e longo prazo para o seu setor, tendo em vista a relação com os Estados Unidos?
Abaixo, iniciamos esse artigo com a opinião de dois especialistas com mais de 30 anos de experiência no mercado de Oil & Gas.
Oil & Gas
De acordo com uma reportagem publicada na Exame, em 18 de fevereiro de 2025, acerca dos produtos brasileiros mais exportados para os Estados Unidos, tem-se que o setor de Oil & Gas ocupa a primeira posição neste ranking, representado pela exportação de óleos brutos de petróleo.
Ao indagar dois especialistas seniores da área sobre o setor na atualidade, tem-se que um destes frisou que as ações do presidente Trump têm mantido o preço da commodity em patamar bastante confortável para a indústria de O&G, no entanto, o outro especialista frisa que as medidas podem ter um impacto significativo e beneficiar o Brasil.
Na linha de seu argumento, cita que uma eventual queda no preço do barril de petróleo pode levar à importação de derivados, como diesel, a um preço mais baixo, reduzindo as pressões inflacionárias no país. Contudo, reitera que há uma dualidade, pois, se por um lado, o Brasil pode se beneficiar importando diesel mais barato, por outro lado, terá um lucro menor na exportação do óleo cru, reduzindo o saldo da balança comercial brasileira.
E o outro especialista cita que, com o “drill, baby, drill” (expressão utilizada por Trump durante sua campanha e posse, que incentiva a perfuração de petróleo e gás em território estadunidense), tem-se que a tendência seria os preços do Brent caírem um pouco, mas a tendência seria os preços serem mantidos acima dos US$ 60 o barril, para não inviabilizar a produção no Shale americano.
Em síntese, ambos concordam que o Brasil pode se beneficiar no segmento de Oil & Gas, mas um dos especialistas cita que, no médio e longo prazo, as perspectivas para o Brasil dependem de como o país irá se adaptar a essas mudanças e buscar novas oportunidades, e não está claro ainda se as medidas de Trump são reais ou estão sendo apenas usadas para forçar uma negociação em condições mais vantajosas aos EUA.
Proteína Animal
Ainda no top 10, o segmento de exportação de proteína animal aparece, e buscamos captar a opinião de dois especialistas da área com mais de 15 anos de atuação no setor.
Ambos concordam que, até então, não viram impactos significativos na exportação para os Estados Unidos, e um dos especialistas cita que, neste momento, com a maior taxação de impostos pela China para frango importado dos EUA, criou-se uma expectativa positiva para o Brasil.
No entanto, citam que os impactos a curto e médio prazo são bastante imprevisíveis, demandando acompanhamento com o decorrer do tempo. Como um destes cita, a balança comercial brasileira poderia se beneficiar através do aumento da exportação para países como a China, que exporta volume significativo de proteína animal suína aos Estados Unidos.
Assim, visualizam que fica difícil estabelecer previsões, e que nos encontramos em uma fase de especulação. Como o Brasil chegará até o final de 2025 no segmento de proteína animal é uma pergunta difícil de ser respondida agora.
Mercado Agro
Texto de um especialista da nossa rede
Já se passou mais de um mês desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos e deu início a uma série de medidas voltadas à taxação de países com os quais mantém relações comerciais. Essas ações têm gerado impactos significativos em diversos setores da economia global, incluindo o agronegócio brasileiro.
A imposição de tarifas e a revisão de acordos comerciais por parte dos Estados Unidos têm despertado preocupações no setor agrícola do Brasil. O mercado norte-americano representa um importante destino para produtos como soja, carne bovina, suco de laranja e café. Com as novas barreiras tarifárias, os produtores brasileiros podem enfrentar desafios para manter sua competitividade e acessar esse mercado de forma viável.
Além disso, a incerteza gerada por essas mudanças nas políticas comerciais pode afetar a previsibilidade dos investimentos no setor e, principalmente, nas importações de fertilizantes. Grandes produtores e exportadores podem buscar alternativas para minimizar os riscos, como a diversificação de mercados e o fortalecimento das relações comerciais com outros países. Tivemos uma super safra de soja e também temos nossos desafios logísticos para escoar essa safra.
No médio prazo, o agronegócio brasileiro deve intensificar seus esforços para fortalecer parcerias com outros mercados, especialmente a China e a União Europeia. A crescente demanda chinesa por commodities agrícolas, como a soja, pode ser uma oportunidade para compensar eventuais perdas causadas pelas restrições dos Estados Unidos e, em paralelo, seguir sempre com conversas abertas com os americanos.
A longo prazo, o Brasil pode se beneficiar da busca por maior autonomia e desenvolvimento tecnológico no setor agropecuário. Investimentos em pesquisa, inovação e sustentabilidade poderão ajudar o país a manter sua posição de destaque no mercado global, independentemente das oscilações da política comercial dos Estados Unidos.
Embora as medidas protecionistas de Trump possam representar desafios imediatos, o agronegócio brasileiro tem potencial para se adaptar e expandir sua influência em outros mercados, além de buscar um diálogo mais próximo com os Estados Unidos, pois não podemos abrir mão de um parceiro tão estratégico. A diversificação de parceiros comerciais e o fortalecimento da competitividade serão essenciais para garantir o crescimento sustentável do setor nos próximos anos.
MERCADO DE ENERGIA – TRANSFORMADORES
Texto de um especialista da nossa rede
No mercado da indústria de transformação para bens ativos do parque energético brasileiro, após quase dois meses da alternância da administração americana, temos um reforço do impacto em sua vertente de demanda.
Temos observado o quanto a renovação e ampliação do parque instalado americano vêm demandando de sua indústria nativa muito mais do que a capacidade nominal e, sendo um perfil produtivo de lenta expansão, esteve, nos últimos 5 anos, “indo às compras” no mercado latino. No mercado nacional, sentimos o aumento colossal das consultas por homologação e fornecimento, o que já triplicou o lead time com o qual o planejador brasileiro estava acostumado. O que não mudou neste curto espaço de tempo.
Ao sinalizar taxações às importações, temos que colocar em perspectiva qual impacto decorrente teríamos, principalmente nos produtos de siderurgia, que representam quase 50% de nosso custo de matéria-prima. Entendemos que, ao reduzir o volume transacionado do Brasil para os EUA, teríamos uma maior oferta nacional, podendo até mesmo ser incentivada a melhorar sua eficiência produtiva e tributária, e reocupar o volume hoje que importamos da China. Se se mantiverem as tarifas, outro reflexo seria a redução do volume China => EUA, que disponibilizaria mais insumos à indústria nacional.
Por mais que não concordemos com taxação como meio de proteção, pois incentivar ou proteger demanda mais inflaciona do que fomenta a produção, entendemos que o movimento sinalizado pela administração Trump pode, até mesmo, ter um efeito colateral positivo em nossa cadeia.
Aço
Um especialista da nossa rede teceu os seguintes comentários acerca de seu setor:
1) Para os aços longos, percebemos que o mercado está mais cauteloso, evitando aumentar os estoques. No entanto, essa postura não tem impactado nem os preços nem a demanda.
2) Para os aços em geral, a expectativa é de que seja alcançado um acordo com os Estados Unidos, mantendo o modelo de cotas. De qualquer forma, é importante lembrar que, para o mercado de aços longos, tal acordo não deve ter impacto sobre as exportações. No que diz respeito à importação de aços longos, acredito que, por questões logísticas internacionais, essa opção não seja viável. No longo prazo, o que poderia ocorrer seria a importação de máquinas, equipamentos e peças.

Em resumo, o atual cenário de exportação do Brasil para os Estados Unidos não está claro para os setores acima abordados, o que requer mais tempo para visualizar os possíveis impactos na nossa balança comercial. No entanto, fica claro que o Brasil pode se beneficiar de tal situação, e que todo o barulho ao redor do aumento da taxação dos países que mantêm relação comercial com os Estados Unidos pode ser nada mais que gritos especulativos para tentar condições mais favoráveis para o referido país. A questão que fica é: os outros países, contando com o Brasil, vão retaliar?
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