Entre a Ambição e a Realidade: O BRICS e os Desafios de uma Agenda Comum
- geralprospectus
- 21 de jul.
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Texto de José Ronaldo Castro
Marcado por profundas diferenças políticas, econômicas e geográficas, o BRICS — grupo que agora inclui Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã e Etiópia ao lado de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — amplia sua composição, mas mantém limitações que dificultam avanços concretos em temas sensíveis. Em um cenário de acirramento das tensões entre Estados Unidos e Brasil, trazer à tona discussões sobre o BRICS, especialmente em pautas polêmicas como moeda comum ou enfrentamento à hegemonia do dólar, pode ser contraproducente, tornando este um momento pouco adequado para elevar o tom dessas iniciativas. O contexto atual exige, ao contrário, cautela e esforços para reduzir a temperatura do debate internacional, evitando agravar ainda mais as relações bilaterais já tensionadas.
Apesar do potencial de influência, a coordenação macroeconômica entre os países do BRICS esbarra em desafios significativos. As assimetrias estruturais entre suas economias — que vão de potências industriais a exportadores de commodities, com regimes políticos e políticas monetárias bastante distintos — tornam difícil a harmonização de estratégias fiscais, cambiais e comerciais. Enquanto a China mantém uma política cambial fortemente gerida e reservas robustas, Brasil e África do Sul operam com câmbio flutuante e enfrentam volatilidades distintas em seus mercados. Essas diferenças limitam a efetividade de qualquer tentativa de integração econômica mais profunda, embora abram espaço para cooperação pontual em áreas como financiamento ao desenvolvimento e infraestrutura.
A ideia de criar uma moeda comum ou ampliar o uso de moedas locais nas transações internacionais, frequentemente apresentada como alternativa à hegemonia do dólar, adquire contornos ainda mais delicados frente ao atual contexto de conflito bilateral entre Estados Unidos e Brasil. Lançar mão dessa pauta neste momento pode ser interpretado como provocação, aumentando o risco de retaliações e agravando o clima de desconfiança. Além das dificuldades técnicas e institucionais — como alinhar políticas monetárias, criar mecanismos de compensação e garantir a confiança dos mercados —, há obstáculos políticos e estratégicos que tornam improvável a consolidação de uma moeda comum ou a expansão significativa do uso de moedas locais no médio prazo.
Confrontar diretamente a hegemonia do dólar, em plena guerra comercial e em um momento de relações bilaterais sensíveis, pode trazer mais prejuízos do que ganhos, sobretudo para o Brasil. A heterogeneidade do grupo e a ausência de integração comercial relevante entre muitos dos membros reforçam o caráter limitado dessas iniciativas.
Assim, o BRICS segue sendo um fórum importante de diálogo e cooperação, mas suas limitações estruturais e a diversidade de seus integrantes impõem barreiras à construção de uma agenda macroeconômica integrada e à efetiva contestação do status quo monetário global. Neste momento, o mais prudente seria priorizar ações pragmáticas e evitar temas que possam exacerbar tensões internacionais.
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